"Ouvi-me, ilhas,
e escutai vós, povos de longe! O Senhor me chamou desde o ventre, desde as
entranhas de minha mãe, fez menção do meu nome. E fez a minha boca como uma
espada aguda, e, com a sombra da sua mão, me cobriu, e me pôs como uma flecha
limpa, e me escondeu na sua aljava. E me disse: Tu és meu servo, e Israel,
aquele por quem hei de ser glorificado. Mas eu disse: Debalde tenho trabalhado,
inútil e vãmente gastei as minhas forças; todavia, o meu direito está perante o
Senhor, e o meu galardão, perante o meu Deus." (Is. 49:1-4)
Vivemos
uma era em que as pessoas gostam de ser servidas.
Ser
servo para alguns significa ser idiota, burro, alguém que gosta de ser passado
para trás.
As
pessoas aspiram grandeza porque querem ser servidas.
O que significa ser
servo?
Servo
é aquele que serve e quanto mais servir, maior e melhor servo será, pois tudo o
que faz é oferta para o seu Senhor.
O
amor é o elo fundamental na relação Senhor – servo.
Em
tempos remotos os servos eram adquiridos por um valor, como se fossem um objeto
qualquer, passando a ser propriedade daqueles que os compravam com dinheiro.
Mas
os verdadeiros servos do Senhor Jesus Cristo, foram comprados não por dinheiro,
mas pelo Seu precioso sangue.
O
sangue do Senhor Jesus foi o preço pago para nos tirar da condição de escravo
do inferno, dando-nos a condição de reis e sacerdotes para Deus.
O
prazer do servo bom e fiel é servir cada vez mais e melhor, não com interesses
escusos e escuros, mas simplesmente por que tem o mesmo Espírito d’Aquele que
lhe serviu primeiro.
Servir
é um ato muito mais ligado ao qualitativo do que ao quantitativo; muito mais ao
emocional do que ao racional; muito mais ao satisfazer-me do que ao
satisfazer-te.
Este
texto fala sobre o servo do Senhor.
Quem
é este servo?
Assim
como acontece com muitas passagens bíblicas, esse texto tem múltiplas
aplicações.
Em
primeiro lugar, o profeta Isaías fala de si mesmo.
Observe
que ele usa o pronome pessoal da primeira pessoa: “Mas eu disse.” (Is.49:4ª)
Em
segundo lugar, o servo do Senhor é a nação de Israel. “Tu és meu servo, e Israel, aquele por quem hei de ser glorificado.”
(Is. 49:3)
Em
terceiro lugar, em se tratando de uma profecia messiânica, o servo do Senhor,
por excelência, é o próprio Senhor Jesus. Esse Servo seria adorado por reis e
príncipes. “Os reis o verão e se
levantarão; os príncipes diante de ti se inclinarão...” (Is. 49:7b)
Em
último lugar, entendemos que muito do que o texto fala sobre o servo do Senhor,
pode ser aplicado a cada um de nós que, em qualquer tempo ou lugar, servimos a
Deus.
I.
O chamado do servo
“O Senhor me chamou desde o ventre, desde as entranhas de
minha mãe, fez menção do meu nome." (Is. 49:1)
O
servo do Senhor precisa ter consciência de seu chamado e de sua identidade.
Todos
os que trabalham na obra do Senhor precisam ter consciência de terem sido
chamados para o trabalho ou ministério que executam.
Essa
consciência, essa certeza, torna-se um alicerce na vida do servo de Deus.
Tudo
pode estar desabando, mas o servo se firma na palavra do Senhor, em seu
chamado, nas profecias que lhe foram entregues a respeito da missão que lhe foi
outorgada.
“Este mandamento te
dou, meu filho Timóteo, que, segundo as profecias que houve acerca de ti,
milites por elas boa milícia, conservando
a fé e a boa consciência, rejeitando a qual alguns fizeram naufrágio na fé.”
(I Tm. 1:18)
II.
Palavra do servo
"E fez a minha boca como uma espada aguda..."
(Is. 49:2ª)
O
servo do Senhor precisa falar a Palavra de Deus.
“Porque a palavra de
Deus é viva, e eficaz, e mais penetrante do que qualquer espada de dois gumes,
e penetra até à divisão da alma, e do espírito, e das juntas e medulas, e é
apta para discernir os pensamentos e intenções do coração.” (Hb. 4:12)
Com
a palavra do Senhor no coração e nos lábios, o servo do Senhor terá a sabedoria
necessária para cumprir seu propósito.
III.
Proteção do servo
"...e, com a sombra da sua mão, me cobriu..."
(Is. 49:2b)
O
servo será guardado e protegido pelo Senhor.
Deus
tem um compromisso com seus servos.
Quando
nos sentimos fatigados sob o sol, logo procuramos um lugar à sombra.
Assim
é a proteção do Senhor sobre nós.
Ainda
que passemos por dificuldades, o Senhor nos dará o livramento, a não ser que o
nosso sacrifício também faça parte de um propósito específico, como foi o caso
de muitos que entregaram suas vidas pela causa do evangelho.
O
certo é que, enquanto não tivermos cumprido o propósito para o qual fomos
chamados, nada poderá nos destruir.
Nossa
missão é o nosso seguro de vida.
Estamos
guardados até que todo o plano do Senhor a nosso respeito esteja concretizado.
Ele
garantirá nosso sustento e nossa segurança.
IV.
O processo do servo
"...e me fez como uma flecha limpa... "
(Is. 49:2c)
Essa
frase nos fala de um processo.
O
verbo "fazer" implica em um trabalho, através do qual o Senhor molda
o caráter do servo.
A
ilustração utilizada é a flecha.
O
guerreiro toma em suas mãos um pedaço de madeira, que talvez, no estado em que
se encontrava, não serviria para nada.
Seria
apenas mais um pedaço de lenha à espera do fogo, mas o guerreiro, ao olhar para
aquele pedaço de pau, já sabe em quê suas mãos poderão transformá-lo.
É
assim que Deus nos olha, não levando em conta o que fomos, ou o que somos, mas
aquilo que viremos a ser em suas mãos.
Todos
os servos do Senhor passam por um processo para que se tornem aquilo devem ser.
Desse
modo, por meio da Palavra, das repreensões, dos conselhos, dos exemplos, das
circunstâncias, do Espírito Santo, etc, Deus vai nos tornando cada vez mais
semelhantes ao Servo padrão: o Senhor Jesus Cristo.
A
flecha é nada, a não ser que esteja à disposição do guerreiro, pois em suas
mãos ela será útil e eficiente.
É
com ela que o inimigo será atacado.
Por
meio de nós o Senhor haverá de pisar a cabeça de Satanás.
“E o Deus de paz esmagará
em breve Satanás debaixo dos vossos pés. A graça de nosso Senhor Jesus Cristo
seja convosco. Amém!”
(Rm. 16:20)
Se
não estivermos nas mãos do Senhor, seremos inúteis.
O
servo do Senhor é comparado à flecha polida.
Isso
significa que ela está limpa e brilhante.
A
flecha pode ter sido feita com muito empenho, mas, se estiver, por exemplo,
carregada de barro, não servirá para o guerreiro.
Nem
por isso será jogada fora, mas colocada de lado temporariamente até que seja
limpa.
Outra
será usada em seu lugar naquele momento.
Nesse
caso, a sujeira será um peso.
A
flecha precisa estar livre de qualquer corpo estranho que venha comprometer sua
leveza e aerodinâmica.
O
servo do Senhor precisa estar limpo e brilhante.
Precisamos
limpar nossas mãos através do perdão que encontramos por meio do sangue de
Jesus.
Estando
limpos, o brilho do Senhor se refletirá em nossa face.
Somos
como espelhos e, se estivermos limpos, refletiremos a imagem do Senhor em nós.
“Mas todos nós, com
cara descoberta, refletindo, como um espelho, a glória do Senhor, somos
transformados de glória em glória, na mesma imagem, como pelo Espírito do
Senhor.” (II
Co. 3:18)
V.
O servo é guardado
pelo Senhor.
"....e me escondeu na sua aljava."
(Is. 49:2d)
A
aljava é um tipo de sacola que o guerreiro leva nas costas.
Ali
ficam guardadas as flechas. Estão protegidas.
Ninguém
as toma do guerreiro.
Assim,
os servos do Senhor estão guardados.
O
servo precisa estar assim, sempre à disposição do Senhor.
Ele
pode usá-lo em qualquer momento.
Não
podemos escolher a hora de trabalhar.
O
Senhor é quem decide.
Precisamos
nos perguntar: estamos à disposição do Senhor?
Quando
Ele enfiar a mão na aljava, vai encontrar as flechas prontas, limpas,
brilhantes e disponíveis?
Quando
o Senhor nos enviar, estaremos prontos para ir?
Alguns
apresentam uma lista de planos que se tornam obstáculos ao plano de Deus.
(Mt.22.1-14)
Estes
não estão na aljava do Senhor, portanto, não serão úteis.
A
flecha é lançada numa direção e com um propósito específico.
Assim,
o servo do Senhor precisa ir para onde o Senhor mandar.
Talvez
isto signifique deixar um lugar confortável para ir a um local desconhecido
para executar o plano de Deus.
“Ora, o Senhor disse
a Abrão: Sai-te da tua terra, e da tua parentela, e da casa de teu pai, para a
terra que eu te mostrarei. E far-te-ei uma grande nação, e abençoar-te-ei, e
engrandecerei o teu nome, e tu serás uma bênção. E abençoarei os que te
abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; e em ti serão benditas todas
as famílias da terra.” (Gn. 12:1-3)
Estar
na aljava representa também estar esperando o tempo certo para executar a
missão.
Esse
aspecto pode ser muito complicado.
Queremos
agir, agir logo, de qualquer modo.
Quando
precisamos esperar ficamos ansiosos.
O
próprio Senhor Jesus até os 30 anos de idade ficou na aljava do Pai.
Não
fez discípulos, não curou enfermo, não ressuscitou morto, não evangelizou, etc.
No
dia em que se apresentou para ser batizado por João, Jesus começou seu
ministério público.
A
flecha foi lançada.
Muitos
servos do Senhor foram chamados para grandes obras, mas não veem nada se
concretizando.
Ficam
ansiosos e querem tomar iniciativas para ajudar o Senhor.
Lembre-se
do caso de Abraão e Sara.
Achando
que Isaque demorava muito, providenciou Ismael.
Criou
um problema que traz consequências até hoje.
Outro
exemplo é o de Saul.
Vendo
que Samuel demorava, resolveu ele mesmo fazer o sacrifício.
Por
isso, foi rejeitado pelo Senhor.
Precisamos
saber esperar até que o Senhor nos diga: "É agora. Vá em frente."
Até
lá estaremos sendo preparados, limpos e guardados.
Estar
na aljava também significa estar escondido.
Isso
é muito incômodo, pois é natural e carnal, que queiramos aparecer.
Precisamos
resistir a esse desejo.
Quem
muito aparece ganha muita pedrada.
As
maiores torres são as mais visíveis e mais famosas.
Consequentemente,
são as mais expostas aos ataques.
Lembre-se
do World Trade Center.
Estejamos
numa posição discreta, enquanto esperamos, humildemente, a ordem para
executarmos determinado trabalho.
Certamente,
o Senhor não nos deixa ociosos.
Enquanto
ainda não fomos enviados para realizar determinada missão, Ele nos dá outras
tarefas para executarmos.
O
Senhor disse: "Tu és meu servo, e
Israel, aquele por quem hei de ser glorificado. " (Is. 49:3)
Esse
é o objetivo do nosso trabalho: a glória de Deus.
Não
é a glória do homem. Não é a glória para o servo. A glória é do Senhor.
Qual
é o propósito do seu trabalho na obra de Deus?
Reconhecimento
humano? Dinheiro? Fama? Posição social na igreja?
Cuidado.
O
propósito do nosso trabalho deve ser a glória de Deus para Deus.
Quando
o nosso propósito é egoísta, começamos a rejeitar determinadas tarefas que nos
são atribuídas porque avaliamos que elas não nos trarão o benefício que esperamos.
Então,
pregar numa igreja pequena, que não nos dará nenhuma oferta financeira, não
será atraente se estivermos trabalhando pelo dinheiro.
Quando
trabalhamos para a glória de Deus, nossa visão é outra.
Lembre-se
do evangelista Filipe: saiu de uma cidade, onde o evangelho progredia, e foi
para a beira de uma estrada evangelizar um homem eunuco no deserto. (At. 8)
VI.
O serviço do servo
não é vão
"Mas eu disse: Debalde tenho trabalhado,
inútil e vãmente gastei as minhas forças; todavia, o meu direito está perante o
Senhor, e o meu galardão, perante o meu Deus." (Is. 49:4)
O
Senhor diz algo e o servo fala o contrário.
Quantas
vezes nos falta o ponto de vista de Deus a respeito do evangelho, da igreja, da
missão ou sobre nós mesmos!
Fazemos
então julgamentos errados.
Pensamos
que o nosso trabalho é inútil.
Filipe
evangelizou e batizou um homem no caminho de Jerusalém para Gaza.
Julgando
humanamente, poderíamos dizer: "Que desperdício, Filipe! Você deveria
fazer uma série de conferências em Jerusalém, e não ficar gastando seu tempo
precioso pregando para um homem só."
Entretanto,
aquele homem era um ministro da rainha da Etiópia.
“E levantou-se e foi.
E eis que um homem etíope, eunuco, mordomo-mor de Candace, rainha dos etíopes,
o qual era superintendente de todos os seus tesouros e tinha ido a Jerusalém
para adoração.”
(At. 8:27)
Portanto,
sua conversão significaria a entrada do evangelho em seu país.
Deus
vê o que nós desconhecemos.
Quantas
vezes nos falta a visão do resultado do nosso trabalho.
O
problema é que talvez estejamos esperando resultados visíveis que aumentem o
nosso próprio crédito.
Então,
a frustração talvez seja natural.
Mas
se estamos trabalhando para a glória de Deus, encontraremos motivo para nos
regozijarmos.
Muitas
vezes, o efeito do nosso trabalho é espiritual, é invisível.
São
pecados evitados, são corações transformados, consolados, edificados,
restaurados.
Não
vemos essas coisas e muitas vezes nem ficamos sabendo.
Isso
é até bom para que não nos ensoberbeçamos, pensando que somos grandes servos de
Deus. Isso seria um paradoxo.
Não
existem grandes servos. Todo servo é pequeno. Grande é o Senhor.
“...o meu direito
está perante o Senhor, e o meu galardão, perante o meu Deus." (Is. 49:4b)
Quando
fazemos o que Deus nos mandou fazer, nosso trabalho não é vão.
Querido
irmão, o Senhor vai recompensá-lo por todo o seu esforço em prol do reino de
Deus.
Ele
vê suas dificuldades e recolhe suas lágrimas.
Somos
como aqueles servos da parábola dos talentos.
O
Senhor se retirou para uma terra distante.
Em
breve ele voltará, trazendo consigo a recompensa para cada um dos seus servos.
Porém,
somente serão premiados aqueles que foram fiéis no seu serviço diante de Deus.
Precisamos,
portanto, reconhecer o chamado e assumir nosso papel de servos.
Apresentemo-nos
ao Senhor para que ele nos prepare, nos limpe e nos use para a sua glória.
Amém!!!
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