Estamos
vivendo numa época em que a ênfase no Ocidente sobre liberdade e
individualidade, vinda em grande parte da cultura norte-americana, tem causado
uma desvalorização de algumas outras virtudes, entre as quais a capacidade de
honrar tradições, instituições e pessoas, mais notáveis nas culturas asiáticas.
O
protestantismo, com sua ênfase em convicção pessoal, discorda veemente com o
que é percebido como erro e prática de confrontação, segundo o modelo nobre e
heróico dos profetas bíblicos, isto também contribuiu para essa tendência.
Expressar
conformidade ou atribuir honra ganharam conotação de fraqueza. Com isso, tem
havido um enfraquecimento, sem precedentes, de instituições como a família, a
Igreja e a escola desde a metade do século passado.
Não
estou negando que existam momentos em que precisaremos confrontar determinada
situação ou pessoa.
Porém,
existem muitíssimos de nós que, pensando ser filhos espirituais dos profetas do
Antigo Testamento, somos simplesmente críticos e confrontadores por natureza.
Deus
nos chama para honrarmos e respeitarmos as pessoas, até mesmo quando
discordamos delas.
Considere
a seguinte admoestação feita por Pedro: "Tratai
todos com honra, amai os irmãos, temei a Deus, honrai o rei. Servos, sede
submissos, com todo o temor ao vosso senhor, não somente se for bom e cordato,
mas também ao perverso." (I Pe. 2:17-18)
A Ordem de Deus
Há
algo dentro de nós que se rebela contra a ideia de honrar as pessoas.
Dizemos,
muitas vezes com ar de “espirituais”, que honraremos apenas Deus.
Sentimos
que é nosso dever manter os outros humildes a fim de que o orgulho não os
domine.
Na
realidade, é o nosso orgulho que nos domina, alimentado pela inveja que
sentimos do sucesso dos outros.
Veja
o que nos ordena a Palavra de Deus:
1.
No
corpo de Cristo, devemos honrar a cada membro, dando aos que parecem mais
fracos, aos menos dignos, aos que não são decorosos honra mais abundante.
"E os que reputamos serem menos honrosos no corpo, a
esses honramos muito mais; e aos que em
nós são menos decorosos damos muito mais honra. Porque os que em nós são mais
honestos não têm necessidade disso, mas Deus assim formou o corpo, dando muito
mais honra ao que tinha falta dela." (I Co. 12: 23-24)
2.
Além
de honrar a todos os homens, devemos honrar o rei, ou as autoridades seculares.
"Tratai todos com honra, amai os irmãos, temei a Deus, honrai o
rei."
(I Pe. 2:17)
3.
Devemos
honrar os presbíteros ou aqueles que governam a igreja
"Devem ser considerados merecedores de dobrados
honorários os presbíteros que presidem
bem, com especialidade os que se afadigam na palavra e no ensino." (I Tm. 5:17)
4.
No
trabalho, devemos honrar e respeitar nossos empregadores
"Todos os servos que estão debaixo do jugo estimem a
seus senhores por dignos de toda a
honra, para que o nome de Deus e a doutrina não sejam blasfemados." (I Tm. 6:1)
5.
Também
devemos honrar as viúvas
"Honra as viúvas que
verdadeiramente são viúvas." (I Tm. 5:3)
6.
O
cônjuge
"Maridos, vós, igualmente, vivei a vida comum do
lar, com discernimento; e, tendo consideração para com a vossa mulher como
parte mais frágil, tratai-a com dignidade, porque sois, juntamente, herdeiros
da mesma graça de vida, para que não se interrompam as vossas orações." (I Pe. 3:7)
"Assim também vós, cada um em particular ame a sua
própria mulher como a si mesmo, e a mulher reverencie o marido." (Ef. 5:33)
7.
Os
idosos
"Diante das cãs te levantarás, e honrarás a presença
do ancião, e temerás o teu Deus. Eu sou o SENHOR." (Lv. 19:32)
Na verdade, quando o
ancião entra na sala, deveríamos parar de conversar, ficar em pé e reconhecer
com reverência a entrada do indivíduo mais velho.
Quando
foi a última vez que você viu algo assim?
O
próprio Senhor concede honra às pessoas.
“Se alguém me serve,
siga-me; e, onde eu estiver, ali estará também o meu servo. E, se alguém me
servir, meu Pai o honrará.” (Jo. 12:26)
Veja
também o que o salmista diz: "Porque
a mim se apegou com amor, eu o livrarei; pô-lo-ei a salvo, porque conhece o meu
nome. Ele me invocará, e eu lhe responderei; na sua angústia eu estarei com
ele, livrá-lo-ei e o glorificarei." (Sl. 91:14-15)
Assim,
se o Senhor não tem dificuldade em honrar as pessoas, considerando sua
grandiosa glória, por que somos tão aptos a desonrá-las?
Em
grego, a palavra honra significa “fixar valor, estimar e reverenciar”.
Imagine
um lar onde os filhos reverenciam os pais, e o marido e a esposa se honram.
Devemo-nos
estimar e atribuir valor uns aos outros, pois a honra cria uma proteção
espiritual contra os ataques do inimigo, os quais, de outro modo, danificariam
a qualidade de nossa vida.
Além
do mais, a honra libera o poder de Deus, ao passo que a desonra o impede
grandemente.
O
Mestre Jesus ensinou: “E escandalizavam-se
nele. Jesus, porém, lhes disse: Não há profeta sem honra, a não ser na sua
pátria e na sua casa. 58 E não fez ali muitas maravilhas, por causa da
incredulidade deles.” (Mt. 13.57-58)
As
pessoas da terra natal de Jesus não o honraram, e Jesus chamou sua falta de
honra de “incredulidade”.
A
forma crítica e desonrosa com que os conterrâneos de Jesus o viam
desabilitou-lhes a capacidade de receber os dons que Deus queria que recebessem
através d'Ele.
Em
outras palavras, quando desonramos um homem ou uma mulher de Deus, impedimos
que o poder de Deus aja por intermédio deles.
“Assim que, daqui por
diante, a ninguém conhecemos segundo a carne; e, ainda que também tenhamos
conhecido Cristo segundo a carne, contudo, agora, já o não conhecemos desse
modo.”
(II Co. 5:16)
Embora
sejamos novas criaturas em Cristo, nosso problema é que só reconhecemos um ao
outro segundo a carne.
Alguém
precisa morrer antes que possamos reconhecê-lo segundo o espírito; temos
familiaridade demais um com o outro no nível errado.
Precisamos
quebrar as limitações que a carnalidade e o ciúme colocaram nas nossas
percepções: Cristo habita na pessoa que está ao nosso lado.
Um
dos maiores empecilhos para o reconhecimento de Cristo nas pessoas são as suas
falhas.
Entretanto,
nossas falhas passadas não são limitação para Deus.
João
Marcos abandonou Paulo e Barnabé, mas Barnabé viu o potencial de Cristo nele e
o honrou, não pelo que tinha feito, mas pelo que poderia ser, pelo seu destino.
E
que destino este Marcos, autor do segundo evangelho, no fim, pôde alcançar!
As Consequências da
Honra e da Desonra
Paulo
nos lembra do quarto mandamento ao escrever: “Honra a teu pai e a tua mãe (que é o primeiro mandamento com
promessa), para que te vá bem, e sejas de longa vida sobre a terra.” (Ef. 6:2-3)
Em
outras palavras, se habitualmente desonrarmos nossos pais ou aqueles que estão
em autoridade sobre nós, acontecerá o contrário e teremos grandes problemas.
Honrar
alguém não nos diminui, apenas eleva a outra pessoa.
Não
é um ato de temor, mas de humildade. Paulo escreve: “Todo homem esteja sujeito às autoridades superiores; porque não há
autoridade que não proceda de Deus; e as autoridades que existem foram por ele
instituídas.”(Rm. 13:1)
Todas
as autoridades constituídas representam a resposta de Deus para o caos e a
anarquia.
Sabemos
que há ocasiões em que os homens abusam de sua autoridade oficial e resistem à
vontade de Deus.
Nesses
casos, devemos obedecer à autoridade superior do Senhor, que está acima da
autoridade institucional.
Mas
isso é somente quando somos ordenados por um governante, empregador ou até
autoridade na igreja que desobedecem diretamente à Palavra de Deus ou renunciam
à verdade.
Contudo,
mesmo neste contexto, não devemos desonrar os que estão em autoridade a fim de obedecer
a uma autoridade superior.
Não
precisamos ter uma atitude rebelde em relação às pessoas a fim de ter uma
atitude obediente para com Deus.
O
grande exemplo bíblico desse princípio encontra-se na história de Noé.
Na
ocasião em que se embriagou depois do dilúvio e ficou despido dentro da tenda.
Seu filho, Cão, entrou na tenda, viu a nudez do pai e revelou o fato aos seus
irmãos. Os outros dois filhos, Sem e Jafé, porém, tomaram uma capa, entraram na
tenda de costas e cobriram a nudez do pai. Por causa desse fato, os dois foram
abençoados enquanto Cão foi amaldiçoado.
Para
nos habilitarmos às bênçãos de Deus, precisamos aprender a submeter-nos aos
líderes que são imperfeitos sem desonrá-los.
O
grande fato é que não há líderes perfeitos.
Seu
chefe, pastor, professor, prefeito e até seu pai e sua mãe são imperfeitos, e
você também o é.
Quando
os expomos à humilhação ou à desonra ao revelar para os outros as suas
fraquezas, trazemos uma maldição sobre nós. Nunca progrediremos na vida com tal
atitude.
Você
diz: “Se eu me submeter, vou me sentir hipócrita, alguém que só sabe dizer sim.
Se eu vejo algo errado numa pessoa, vou advertir os outros a respeito”. Tome
cuidado. O que você chama de coragem para “falar a verdade” pode, na verdade, ser
uma atitude enganosa de rebeldia e desonra. Isto pode ser uma forma de camuflar
nossa justiça própria, orgulho e incapacidade de honrar os outros.
Isso
não significa que você não deva se preocupar quando percebe que há um problema.
É
possível que você tenha um conselho ou até uma palavra de Deus para ajudar seu
líder.
Porém,
não abra a porta para a desonra, principalmente na igreja.
Se
está enxergando um problema, não siga o exemplo de Cão! Não vá contar aos
outros, mas cubra a situação em amor. Siga o procedimento que Jesus nos ensinou,
permanecendo respeitoso e humilde enquanto procura pôr um fim ao pecado na vida
daquela pessoa.
Até
que vejamos a esperança e a dignidade de Cristo dentro de cada pessoa, nunca
quebraremos a maldição que a desonra tem causado às nossas almas.
Precisamos
aprender a não enterrar as pessoas nos seus fracassos.
Cristo
permanece sempre presente, sempre disposto a restaurar e liberar seu poder, até
nos seus vasos caídos e feridos. Para isso, precisamos cooperar, perdoando e
aceitando a obra de Deus neles. No sentido mais verdadeiro, é o Espírito de
Cristo e o seu potencial que merecem ser reconhecidos e honrados em cada um,
até naqueles que ainda não o conhecem.
Que
aprendamos a não julgar as pessoas segundo a carne, mas a honrá-las de acordo
com os olhos da nova criação!
Amém!!!
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