sábado, 7 de maio de 2016

O TRABALHO E O DINHEIRO

“Descobri que todo trabalho e toda destreza surgem da competição que existe entre as pessoas. Mas isso também é absurdo, é correr atrás do vento. O tolo cruza os braços e come a própria carne, destrói a própria vida. Melhor é ter um punhado com tranquilidade do que dois punhados à custa de muito esforço e de correr atrás do vento.” (Ec. 4:4-6)

Certamente é elogiável quando alguém está disposto a trabalhar arduamente e faz isso com perícia, mas o trabalho árduo e a proficiência não necessariamente dão satisfação.
Pode-se trabalhar arduamente e com perícia, não apenas para realizar algo que valha a pena, mas para superar outros em proficiência e produtividade.

A relação com trabalho e dinheiro sempre foi desafiadora.
Seu desequilíbrio gerou muita confusão ao longo da história.
O sábio observa que as pessoas colocam-se em extremos.
De um lado, obcecados por dinheiro.
De outro, negligentes contumazes.
Conclui sua reflexão apontando para um caminho alternativo em busca de equilíbrio e tranquilidade.

             I.        Dois punhados.

Dois punhados é a medida do exagero, pois implica em ter as mãos ocupadas.
Diz respeito aos que ocupam todo o tempo, agenda, energia e atenção com os assuntos ligados à produção de riqueza.
Quer tudo em suas mãos, toma tudo para si.
A motivação foi apontada: “Todo trabalho e toda destreza surgem da competição que existe entre as pessoas.” (Ec.4:4)
Segundo o sábio, a rivalidade e competição explicam o esforço implacável de muitos.
Não são motivos nobres que os move, mas o desejo de superar socialmente outros, colocar-se no topo da pirâmide, ser invejado pelo que se conquista, ovacionado pelo que se ostenta.
Todo esforço, trabalho, feito com muita habilidade, destreza, esconde a ambição desenfreada pelo dinheiro, poder e status.
Impressionante é o fato de o texto ter sido escrito há três mil anos atrás.
Isso evidencia que essa busca insana por acúmulo não é fruto do sistema capitalista, mas de um coração perdidamente insaciável.
Por essa razão, o mundo sempre teve suas tensões internacionais, disputas trabalhistas, conflitos de classes.
Como ensinou Paulo, ninguém deve depositar sua esperança na instabilidade da riqueza.
“Manda aos ricos deste mundo que não sejam altivos, nem ponham a esperança na incerteza das riquezas, mas em Deus, que abundantemente nos dá todas as coisas para delas gozarmos; que façam o bem, enriqueçam em boas obras, repartam de boa mente e sejam comunicáveis; que entesourem para si mesmos um bom fundamento para o futuro, para que possam alcançar a vida eterna.” (I Tm. 6:17-19)

            II.        Nenhum punhado.

Nenhum punhado é a medida vazia para quem cruza os braços.
No outro extremo dos loucos por trabalho estão os loucos pela indolência.
A figura está implícita em sua declaração: “O tolo cruza os braços e come a própria carne, destrói a própria vida.” (Ec. 4:5)
A indiferença, preguiça e o desânimo são marcas impregnadas em seu caráter, cruza o braço.
Cruzar os braços traz a idéia de algo deliberado para não se fazer nada, decisão pela miséria, apologia da vadiagem, da malandragem, do parasita.
É o estilo de vida do folgado que, via de regra, torna-se um parasita.
Tudo o que começa, quando começa, deixa pela metade, quer seja por desilusão com o sistema vil deste mundo, quer seja por qualquer outro motivo, abandona os estudos, o trabalho, caminha na direção da conduta suicida do autocanibalismo, come a própria carne, e torna-se pesado a quem está ao redor, ao governo, à sociedade.
Quem não trabalha, como disse Paulo, também não coma.
“...se alguém não quiser trabalhar, não coma também.” (II Ts. 3:10b)

           III.        Um punhado.

Um punhado é a medida do equilíbrio, uma porção sustentável, que conseguimos alcançar e suportar.
Não toma toda a nossa vida, nossa agenda, nossos pensamentos.
Esforça-se, mas não ao limite de consumir toda a energia e saúde, como está escrito: Melhor é ter um punhado com tranquilidade...” (Ec. 4:6a)
Na teoria é fácil. Na prática, muito desafiador.
Essa moderação só é alcançada quando acompanhada de contentamento e generosidade.
Contentamento diz respeito à satisfação plena com o que se tem não importando o quanto.
“Não digo isto como por necessidade, porque já aprendi a contentar-me com o que tenho.” (Fp. 4:11)
O contentamento torna os pobres em ricos, o descontentamento torna os ricos em pobres.
Generosidade diz respeito ao ato de repartir com os menos favorecidos, compartilhar recursos com uma causa, dar e ofertar acima de qualquer interesse e utilidade.
O generoso aprende a combater o vírus da avareza no ato de ofertar.
A história está cheia de exemplos de pessoas que alcançaram a consciência de que o propósito do dinheiro é também compartilhar.
Como disse Jesus: “Mais bem-aventurado é dar que receber.” (At. 20:35b)

O proceder sábio é evitar ficar tão enfronhado na labuta, que não há tempo para se usufruir os frutos do trabalho. Isto significa contentar-se com o que se tem.
Aquele que nunca está satisfeito simplesmente não tem descanso.
Sua vida está cheia de preocupações e ansiedades com suas consecuções materiais e como pode obter ainda mais.
Em situação muito melhor está aquele que se contenta com menos.
Ele não tem medo de fazer uso dos seus recursos para usufruir o alimento e a bebida, bem como recreação sadia.
Preocupa-se também com os outros e tem prazer em ajudar os que estão em verdadeira necessidade.
Isto está em harmonia com o conselho bíblico: “Aquele que furtava não furte mais; antes, trabalhe, fazendo com as mãos o que é bom, para que tenha o que repartir com o que tiver necessidade.” (Ef. 4:28)
Está você entre aqueles que usufruem um punhado de descanso, em resultado deste conceito equilibrado sobre o trabalho?

Nada de correr atrás do vento, pois não vale perder a vida para acumular dinheiro, e depois perder dinheiro para tentar recuperar a vida.
Nada de cruzar os braços dando lugar à vadiagem e moléstia, para não acabar na miséria e penúria.
Vamos viver com equilíbrio e moderação, contentamento e generosidade.
Assim alcançaremos tranquilidade e paz.

Amém!!!


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