terça-feira, 23 de junho de 2020

O SIGNIFICADO DE BEBER O SANGUE DE JESUS


Jesus, pois, lhes disse: “Na verdade, na verdade vos digo que, se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tereis vida em vós mesmos.” (Jo. 6:53)

Temos aqui um dos mais profundos mistérios da vida de Deus em nós. Convém que nos aproximemos do assunto com profunda reverência e que peçamos ao Senhor Jesus que nos ensine o significado verdadeiro de beber o seu sangue.

Assim como a água tem uma dupla função, o mesmo ocorre com o sangue. Quando a água é usada para lavar, o resultado é purificação ou limpeza; quando é usada para beber, somos refrescados e reanimados.
Todos conhecem a diferença entre as duas funções. Por mais necessário e agradável que seja usar a água para limpeza, é muito mais essencial e revigorante usá-la para beber. Sem sua ação de purificação, não podemos viver como devemos; contudo, sem bebê-la, não podemos nem viver. É só quando é ingerida que a água exerce seu poder de sustentar a vida.

Sem beber o sangue do Filho de Deus, ou seja, sem a mais plena e intensa apropriação dele, não se pode ter vida eterna.

Beber o sangue do Filho de Deus

Para muitos, pode soar estranha a expressão: “beber o sangue do Filho de Deus”, mas para os judeus que ouviram Jesus era ainda mais ofensivo, pois além da repugnância natural, na lei de Moisés o uso de sangue era proibido, sob severas penalidades. Mas podemos estar certos de que nosso Senhor não teria usado essa expressão se não representasse uma verdade fundamental, impossível de ser comunicada de outra forma.

Portanto, beber o sangue significa que há uma função do sangue que vai muito além de purificação ou santificação; o sangue não só realiza algo por nós, colocando-nos num novo relacionamento com Deus, mas também efetua algo em nós, renovando-nos interiormente. É isso que Jesus quis mostrar quando disse: “Na verdade, na verdade vos digo que, se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tereis vida em vós mesmos.” (Jo. 6:53)
Nosso Senhor distingue aqui dois tipos de vida.

Os judeus que ali estavam tinham uma vida natural de corpo e alma. Muitos eram homens devotos e bem-intencionados, mas Jesus disse que não tinham vida em si mesmos a menos que comessem sua carne e bebessem seu sangue. Precisavam de uma outra vida, uma nova vida do alto que havia em Jesus e que só ele podia comunicar.

Todo ser vivo criado precisa buscar nutrição fora de si mesmo. A vida natural é sustentada por pão e água. A vida celestial precisa ser nutrida por comida e bebida celestiais, fornecidas pelo próprio Jesus. Nada menos do que a vida de Jesus, a vida que Ele viveu como Filho do homem sobre a Terra, pode nutrir a nossa vida como novas criaturas.

Nosso Senhor enfatizou isso de forma ainda mais forte nestas palavras: “Quem comer a minha carne e beber o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia.” (Jo. 6:54)
A vida eterna é a vida de Deus. Jesus veio à Terra, primeiro para revelar essa vida eterna e, depois, para comunicá-la a nós que vivemos na carne.
Nele a vida eterna habitou pelo poder divino num corpo de carne, que depois foi elevado ao céu. De acordo com suas palavras, aqueles que comem sua carne e bebem o seu sangue experimentarão também, em seus próprios corpos, o poder da vida eterna. “Eu o ressuscitarei no último dia.”

O maravilhoso é que em Cristo a vida eterna se manifestou num corpo humano. E, para nós, é tão importante ser participantes desse corpo quanto o é participarmos da vida do seu Espírito; é isso que garante que o nosso corpo, cheio dessa vida, um dia será ressuscitado dos mortos.

Jesus ainda disse: “Porque a minha carne verdadeiramente é comida, e o meu sangue verdadeiramente é bebida.” (Jo. 6:55)
A palavra traduzida verdadeira aqui é a mesma palavra que Jesus usou na parábola da videira: “Eu sou a videira verdadeira.” (Jo. 15:1) Ele estava mostrando a diferença entre o que é apenas um símbolo e o que é uma realidade presente.
Comida natural não é comida verdadeira, pois não transmite verdadeira vida. A única comida verdadeira é o corpo e o sangue do Senhor Jesus Cristo, porque comunica e sustenta uma vida real, não uma vida simbólica ou uma mera sombra.

Para mostrar a realidade e o poder dessa comida, nosso Senhor acrescentou: “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim, e eu, nele.” (Jo. 6:56)
A alimentação da carne e do sangue de Jesus efetua a mais perfeita união com Ele. É por isso que sua carne e seu sangue têm tal poder de vida eterna. Ele declara aqui que aqueles que creem n’Ele não experimentarão meras influências em seus corações, mas entrarão na mais íntima e permanente união com Ele: permanecerão em Jesus e Jesus neles.

A bênção de “beber o sangue do Filho do homem” é tornar-se um com Ele, é participar da natureza divina. É uma união tão real quanto a união entre o Pai e o Filho: “Assim como o Pai, que vive, me enviou, e eu vivo pelo Pai, assim quem de mim se alimenta também viverá por mim.” (Jo. 6:57)
Assim como na natureza divina e indivisível, as duas Pessoas do Pai e do Filho são verdadeiramente uma, igualmente o homem se torna um com Jesus.

O Senhor preparou para si um corpo (Hb 10.5), no qual viveu aqui na Terra. “Pelo que, entrando no mundo, diz: Sacrifício e oferta não quiseste, mas corpo me preparaste.” (Hb. 10:5)
Esse corpo tornou-se participante da vida eterna. Ao comermos da sua carne e bebermos do seu sangue, a vida eterna também passa a habitar em nossos corpos, ou seja, a manifestar-se em nossas vidas.

COMO BEBEMOS O SANGUE DE JESUS?

Como podemos efetivamente beber o sangue de Jesus? A primeira ideia que se apresenta é a profunda e verdadeira apropriação no nosso espírito, pela fé, de tudo que podemos compreender a respeito do poder do sangue.

Às vezes, falamos de “beber” as palavras de um palestrante, quando de coração nos dispomos a ouvir e recebê-las. Assim, quando nosso coração se enche da preciosidade e do poder do sangue, quando com verdadeira alegria nos envolvemos na contemplação dessa verdade.
Quando com fé e coração unido tomamos isso como nossa propriedade e procuramos nos convencer no nosso íntimo do poder vivificante do sangue, então se pode dizer que estamos “bebendo o sangue de Jesus.”
Tudo que a fé nos capacita a ver da redenção, da purificação e da santificação pelo sangue, podemos absorver nas profundezas do nosso ser.

É evidente que nosso Senhor quis revelar algo ainda maior do que isso quando enfatizou repetidas vezes a importância de comer a sua carne e beber o seu sangue. Esta verdade mais ampla se tornaria mais clara posteriormente quando ele instituiu a ordenança da Santa Ceia. Ainda que não tenha mencionado a Ceia no seu discurso em Cafarnaum (João 6), compreendemos depois que a Ceia confirma e torna claro o que ensinou naquela ocasião.

Quando participamos da Ceia do Senhor, há algo mais do que a simples apropriação da obra redentora de Cristo.
Comer o corpo crucificado de Cristo e beber seu sangue derramado, não é apenas aceitar com verdadeira fé no coração todo o sofrimento e morte de Cristo e, assim, receber o perdão dos pecados e a vida eterna; porém, além disso, é tornar-se mais e mais unido ao santo corpo de Cristo, pelo Espírito Santo que habita ao mesmo tempo tanto em Cristo como em nós; de forma que, embora Cristo esteja no céu e nós na Terra, nos tornamos carne de sua carne e osso de seus ossos, vivemos eternamente e somos governados por um só Espírito, como os membros do nosso corpo o são por uma só alma.

Na criação do homem, o fator especial que o distinguiria dos outros espíritos que Deus havia criado anteriormente e que o tornaria a obra suprema da sabedoria e do poder de Deus era que ele revelaria a vida do espírito e a glória de Deus num corpo formado do pó da terra.
Porém, foi através do corpo que cobiça e pecado entraram no mundo. O plano de Deus através da redenção é a libertação do corpo, transformando-o em sua habitação. Só quando isso de fato acontecer é que a redenção será completa.

Foi para isso que o Senhor Jesus veio na carne e levou sobre si os nossos pecados no madeiro. A Escritura afirma que habitou n’Ele corporalmente toda a plenitude da divindade. “Nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade.” (Cl. 2:9) Assim, pela sua morte e ressurreição, Jesus libertou o nosso corpo, não só o espírito, do poder do pecado e da morte.
Como primícias dessa redenção, somos agora um corpo, como também um Espírito, com Jesus. Somos membros do seu corpo, carne de sua carne e ossos de seus ossos. É por isso que ao observarmos a Ceia do Senhor, Ele vem aos nossos corpos também para tomar posse deles.
Ele não só opera pelo seu Espírito em nossos espíritos, a fim de que nossos corpos participem da redenção no dia da ressurreição, mas faz com que já aqui nosso corpo seja templo do Espírito. A santificação da alma e do espírito progredirá mais gloriosamente na proporção em que toda a personalidade humana, unificada e incluindo o corpo, que tende a exercer uma influência tão contrária, participa do mesmo processo.

NA CEIA…

Na Ceia do Senhor, então, somos alimentados conscientemente pelo verdadeiro corpo e pelo verdadeiro sangue de Cristo, ainda que não seja um elemento mágico que qualquer pessoa, crendo ou não, pudesse partilhar. Ainda assim, de forma real e misteriosa, nossa fé recebe pelo Espírito o poder do corpo e do sangue celestiais como o alimento que torna a alma e o corpo participantes da vida eterna.

Beber o sangue de Jesus, então, é o profundo mistério espiritual em que a mais íntima e perfeita união com Cristo é efetuada.
Isso acontece quando o coração, pelo Espírito Santo, apropria-se plenamente da comunhão do sangue de Cristo e torna-se participante verdadeiro da mesma disposição revelada por Jesus no derramar do seu sangue.
O sangue é a alma, a vida do corpo; quando o crente, como um corpo com Cristo, deseja habitar perfeitamente nele, o Espírito, de forma sobrenatural, fará com que o sangue sustente e fortaleça a vida celestial.

A vida que foi derramada no sangue se tornará sua própria vida. A vida do velho EU morre para dar lugar à vida de Cristo nele. Ao perceber como o beber do sangue é a mais elevada participação da vida celestial do Senhor, a fé exerce uma de suas funções mais gloriosas.
O sangue é vida.

Amém!!!

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